Filippe
Presentes
Lucas
Ricardo (Pai)
Nádia
Hilde
Murilo
Guilherme (Pancada)
Sobre o Tema
Em minhas buscas pelo novo no teatro, mesmo no pouco contato que tive com o fazer teatral, descobri coisas interessantes e belezas inexplicáveis no improviso e na liberdade criativa do teatro em grupo.
Lendo um pouco sobre Augusto Boal, encontrei algumas definições e maneiras de conduzir esta criatividade para temas de peso mais social e menos "entretenimento", o que de fato é importante para um grupo tão representativo como o Acaso (mesmo que ainda em pequena escala). Desta forma, separei algumas frases de minha pesquisa que esboçam um pouco do que aprendi e pude passar ao grupo na oficina de terça da semana passada, dia 18/05 (desculpem o atraso pra publicar):
"O Teatro do Oprimido é teatro na acepção mais arcaica da palavra: todos os seres humanos são atores, porque agem, e expectadores, porque observam. Somos todos espect-atores. O teatro do Oprimido é uma forma de teatro, entre todas as outras."
"A imagem do real é real enquanto imagem."
"Somos todos atores, até mesmo os atores."
"Teatro pode ter várias formas. Alguns, assistimos paralisados: o teatro da guerra, o teatro do crime, o teatro das paixões humanas."
Deixando então a imaginação fluir e, me baseando nos jogos propostos pelo Boal (no livro citado na bibliografia ao final deste texto), adaptei os exercícios ao Acaso e ao tempo (curto) que tinha para ministrar esta oficina. Sei que é necessário muito mais dedicação e tempo para se discutir algo tão profundo como o teatro proposto pelo Boal, mas eis o que se deu...
O Exercício
Primeiro Momento:
Trabalho corporal aguçando o conhecimento do corpo, trabalhando músculos e atentando à energia gasta em cada ponto do corpo para diferentes movimentos. Para isso, foi proposto que os atores andassem pelo espaço cenico e se abaixassem para pegar objetos no chão, devolvendo-os em seguida, atentando ao trabalho corporal necessário para fazer estes movimentos.
Fez-se também um exercício de memória, em que os atores deveriam lembrar de momentos daquele dia, da cor da roupa do outro ou mesmo de quantas pessoas estavam presentes. Vale dizer que poucos acertaram as perguntas, o que indica que precisamos de mais exercícios de memória e concentração - o que ficou proposto como atividade diária: prestar atenção e buscar lembrar do dia antes de dormir.
Por fim, foi proposto que os todos deixassem de raciocinar de forma comum e passassem a pensar em imagens, apenas. Todos os pensamentos deveriam ser traduzidos em imgens.
Neste momento aconteceu algo interessante: ao pedir que as pessoas pensassem em problemas sociais e imagens de opressão com a qual tinham contato, muitos fecharam a cara na hora e esboçaram sinais claros de tristeza. Questinamentos que surgiram? Realidades vividas? Não sei. Isso fica no interior de cada um que estava lá e isto é importante, já que ao longo da oficina fomos desenrolando estes pensamentos (imagens) e ao final, todos já estavam de volta a si, porém mais conscientes daqueles problemas.
Segundo Momento:
Discussão! Este foi um dos momentos mais importantes da oficina: gerar discussão em torno de problemas sociais, baseados, claro, no que vivemos e vemos na sociedade em que estamos inseridos. Obviamente muitos problemas comuns surgiram, mas o objetivo era chegar a um consenso sobre o que falar. Qual o problema social que incomoda a todos? Qual a imagem mais opressiva que me vem à mente ao pensar na sociedade?
Depois de um tempo de debate e bastante pressão (proposital) da minha parte, escolheram o tema: pobreza. Chega a ser obvio, mas alguém discorda que este é um tema que incomoda a todos? Nada mais justo.
Quero deixar claro que não induzi nenhum pensamento ou mesmo sugeri qualquer tema ou imagem opressiva naquele momento. A pressão que exerci era em função do tempo curto que tinhamos e da proposta de "sentir a opressão". Decidido então o tema, fomos para a cena!
Terceiro Momento:
Primeiro, os espect-atores formaram a imagem da opressão que escolheram: a pobreza. Um a um, foram complementando ou modificando a cena até que esta representasse a opinião do coletivo de como era a imagem real (quase-estática) daquela situação.
Depois, pedi para que modificassem a cena de modo que aquela imagem opressiva fosse transformada em uma imagem na qual a opressão houvesse desaparecido. Assim, formou-se a imagem ideal, oposta à imagem real criada anteriormente.
Em seguida, propus que voltassem à primeira cena (opressiva) e lentamente transitassem da imagem real para a imagem ideal. Num dado momento, pedi para que congelassem a cena e que se observassem, tentando identificar o que havia mudado da primeira imagem para chegar à segunda, criando assim uma imagem de transição.
(Notem que as imagens de transição são bastante próximas da imagem real, já que apontam os primeiros caminhos para sair de uma e alcançar a outra)
Por fim, mais uma pequena discussão sobre o tema escolhido e sobre como modificamos a imagem real para chegar à imagem ideal, atentando bastante à imagem de transição.
Por que isso tudo, Cabeção?
Busquei com esta oficina, transmitir um pouco do que li sobre o Teatro do Oprimido, do Boal. Dentro da teoria existe algumas divisões e formas de se falar do oprimido, dos problemas sociais, do mundo, enfim... Escolhi o teatro imagem porque achei que era o mais direto naquele momento, para que as pessoas refletissem sobre um problema social sem as discussões fervorosas e infindáveis que nunca chegam em lugar algum além de deixar um rastro maior de questões.
De fato a idéia se concretizou e se mostrou bastante efetiva. Em um extremo colocamos o problema, no outro excluímos o problema, no meio representamos a solução. Obviamente não encontramos a solução de fato para a sugestão opressiva que escolhemos, no caso a pobreza, mas pudemos traduzir isso em movimento, em ação cenica, em mudança de fato, mesmo que dentro do espaço cenico. Ora, isso não tem embutido em si o seu valor social concreto? E se dalí fossemos representar aquela cena nas ruas? Quantas pessoas entenderiam e passariam a ver o problema de outra forma e, daquele momento em diante, mudariam de atitude frente àquela imagem opressiva sempre que a visse na rua?
Creio humildemente então que esta tenha sido uma experiência enriquecedora e, mais do que isso, modificadora. Algo fundamental ao teatro.
Grato sempre ao Boal por isso!
Bibliografia: Jogos para atores e não atores / Augusto Boal (1939-2009) - 13° ed.
"O intelectual é aquele que diz algo simples de forma complicada, o artista é aquele que diz algo complicado de forma simples." (Bukowski)
EVOÉ!
Presentes
Lucas
Ricardo (Pai)
Nádia
Hilde
Murilo
Guilherme (Pancada)
Sobre o Tema
Em minhas buscas pelo novo no teatro, mesmo no pouco contato que tive com o fazer teatral, descobri coisas interessantes e belezas inexplicáveis no improviso e na liberdade criativa do teatro em grupo.
Lendo um pouco sobre Augusto Boal, encontrei algumas definições e maneiras de conduzir esta criatividade para temas de peso mais social e menos "entretenimento", o que de fato é importante para um grupo tão representativo como o Acaso (mesmo que ainda em pequena escala). Desta forma, separei algumas frases de minha pesquisa que esboçam um pouco do que aprendi e pude passar ao grupo na oficina de terça da semana passada, dia 18/05 (desculpem o atraso pra publicar):
"O Teatro do Oprimido é teatro na acepção mais arcaica da palavra: todos os seres humanos são atores, porque agem, e expectadores, porque observam. Somos todos espect-atores. O teatro do Oprimido é uma forma de teatro, entre todas as outras."
"A imagem do real é real enquanto imagem."
"Somos todos atores, até mesmo os atores."
"Teatro pode ter várias formas. Alguns, assistimos paralisados: o teatro da guerra, o teatro do crime, o teatro das paixões humanas."
Deixando então a imaginação fluir e, me baseando nos jogos propostos pelo Boal (no livro citado na bibliografia ao final deste texto), adaptei os exercícios ao Acaso e ao tempo (curto) que tinha para ministrar esta oficina. Sei que é necessário muito mais dedicação e tempo para se discutir algo tão profundo como o teatro proposto pelo Boal, mas eis o que se deu...
O Exercício
Primeiro Momento:
Trabalho corporal aguçando o conhecimento do corpo, trabalhando músculos e atentando à energia gasta em cada ponto do corpo para diferentes movimentos. Para isso, foi proposto que os atores andassem pelo espaço cenico e se abaixassem para pegar objetos no chão, devolvendo-os em seguida, atentando ao trabalho corporal necessário para fazer estes movimentos.
Fez-se também um exercício de memória, em que os atores deveriam lembrar de momentos daquele dia, da cor da roupa do outro ou mesmo de quantas pessoas estavam presentes. Vale dizer que poucos acertaram as perguntas, o que indica que precisamos de mais exercícios de memória e concentração - o que ficou proposto como atividade diária: prestar atenção e buscar lembrar do dia antes de dormir.
Por fim, foi proposto que os todos deixassem de raciocinar de forma comum e passassem a pensar em imagens, apenas. Todos os pensamentos deveriam ser traduzidos em imgens.
Neste momento aconteceu algo interessante: ao pedir que as pessoas pensassem em problemas sociais e imagens de opressão com a qual tinham contato, muitos fecharam a cara na hora e esboçaram sinais claros de tristeza. Questinamentos que surgiram? Realidades vividas? Não sei. Isso fica no interior de cada um que estava lá e isto é importante, já que ao longo da oficina fomos desenrolando estes pensamentos (imagens) e ao final, todos já estavam de volta a si, porém mais conscientes daqueles problemas.
Segundo Momento:
Discussão! Este foi um dos momentos mais importantes da oficina: gerar discussão em torno de problemas sociais, baseados, claro, no que vivemos e vemos na sociedade em que estamos inseridos. Obviamente muitos problemas comuns surgiram, mas o objetivo era chegar a um consenso sobre o que falar. Qual o problema social que incomoda a todos? Qual a imagem mais opressiva que me vem à mente ao pensar na sociedade?
Depois de um tempo de debate e bastante pressão (proposital) da minha parte, escolheram o tema: pobreza. Chega a ser obvio, mas alguém discorda que este é um tema que incomoda a todos? Nada mais justo.
Quero deixar claro que não induzi nenhum pensamento ou mesmo sugeri qualquer tema ou imagem opressiva naquele momento. A pressão que exerci era em função do tempo curto que tinhamos e da proposta de "sentir a opressão". Decidido então o tema, fomos para a cena!
Terceiro Momento:
Primeiro, os espect-atores formaram a imagem da opressão que escolheram: a pobreza. Um a um, foram complementando ou modificando a cena até que esta representasse a opinião do coletivo de como era a imagem real (quase-estática) daquela situação.
Depois, pedi para que modificassem a cena de modo que aquela imagem opressiva fosse transformada em uma imagem na qual a opressão houvesse desaparecido. Assim, formou-se a imagem ideal, oposta à imagem real criada anteriormente.
Em seguida, propus que voltassem à primeira cena (opressiva) e lentamente transitassem da imagem real para a imagem ideal. Num dado momento, pedi para que congelassem a cena e que se observassem, tentando identificar o que havia mudado da primeira imagem para chegar à segunda, criando assim uma imagem de transição.
(Notem que as imagens de transição são bastante próximas da imagem real, já que apontam os primeiros caminhos para sair de uma e alcançar a outra)
Por fim, mais uma pequena discussão sobre o tema escolhido e sobre como modificamos a imagem real para chegar à imagem ideal, atentando bastante à imagem de transição.
Por que isso tudo, Cabeção?
Busquei com esta oficina, transmitir um pouco do que li sobre o Teatro do Oprimido, do Boal. Dentro da teoria existe algumas divisões e formas de se falar do oprimido, dos problemas sociais, do mundo, enfim... Escolhi o teatro imagem porque achei que era o mais direto naquele momento, para que as pessoas refletissem sobre um problema social sem as discussões fervorosas e infindáveis que nunca chegam em lugar algum além de deixar um rastro maior de questões.
De fato a idéia se concretizou e se mostrou bastante efetiva. Em um extremo colocamos o problema, no outro excluímos o problema, no meio representamos a solução. Obviamente não encontramos a solução de fato para a sugestão opressiva que escolhemos, no caso a pobreza, mas pudemos traduzir isso em movimento, em ação cenica, em mudança de fato, mesmo que dentro do espaço cenico. Ora, isso não tem embutido em si o seu valor social concreto? E se dalí fossemos representar aquela cena nas ruas? Quantas pessoas entenderiam e passariam a ver o problema de outra forma e, daquele momento em diante, mudariam de atitude frente àquela imagem opressiva sempre que a visse na rua?
Creio humildemente então que esta tenha sido uma experiência enriquecedora e, mais do que isso, modificadora. Algo fundamental ao teatro.
Grato sempre ao Boal por isso!
Bibliografia: Jogos para atores e não atores / Augusto Boal (1939-2009) - 13° ed.
"O intelectual é aquele que diz algo simples de forma complicada, o artista é aquele que diz algo complicado de forma simples." (Bukowski)
EVOÉ!
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